sexta-feira, janeiro 23, 2009

Considerações sobre a Festa Pomerana e seus principais sintomas

O grande problema em beber como se não houvesse amanhã é que, ao menos na grande maioria dos casos, há amanhã.
E o porvir costuma ser cruel.
O Criador, sádico pela própria natureza, nunca deixa barato: A contraprestação de ordem mediúnico-punitiva costuma vir em forma de náuseas, dores de cabeça, aversão à luz e todos aqueles velhos sintomas que já muito bem conhecemos.
Portanto, aproveitar bem o estado ébrio é condição sine qua non de um bom porrete.
Conseguiu se embriagar? Transcendeu àquela parca ilusão chamada sobriedade? Então aproveite, companheiro! Faça o que tu queres, pois, caso não houver testemunha, é tudo da lei!
Afinal, posto que o castigo divino seja realmente inevitável (desconsiderando o suicídio como solução para a ressaca), é preciso regozijar-se o máximo possível durante a véspera.
É hora de correr pelado, ligar para toda a agenda do seu telefone, encarnar São Jorge (e enfrentar o dragão), rir sem motivo, chorar sem motivo, brigar sem motivo, xingar sem motivo, gritar sem motivo e fazer todas aquelas coisas que você sempre quis fazer mas nunca encontrou motivo.
O álcool etílico age como uma espécie de lubrificante social de densidade ímpar, cujos benefícios vão desde o embelezamento da pessoa alheia até o auto-enriquecimento sem que para isso haja necessidade de qualquer aumento do capital financeiro do cidadão. Um enriquecimento tácito, digamos, criado pela própria jovialidade de um espírito recém renovado.
A famigerada “saideira” é um assunto à parte: Apenas em raríssimos casos é efetivamente a última da noite. Normalmente chega amiúde, num ciclo que facilmente tenderia ao infinito caso não existissem limitadores financeiros, cronológicos, morféticos e hepáticos, que não surgem necessariamente nesta ordem, mas cedo ou tarde acabam dando cabo à brincadeira.
E vali-me exatamente deste raciocínio no último domingo, a fim de não me abalar com o estado de colapso no qual esta velha carcaça se encontrava.
Minha capacidade cognitiva se desprendeu deste meu amendoinzinho, que chamo carinhosamente de cérebro, para vagar por outras bandas. Dadas as circunstâncias dos eventos do último fim de semana, acredito que ela (a capacidade cognitiva) tenha ido lá pros lados da Bavária e adjacências, a fim de degustar um bom chopp de trigo.
Voltou aos poucos. Domingo à noite eu já era capaz de repetir meu nome (o primeiro, pelo menos) e fazer contas simples de adição e subtração (com o auxílio de uma calculadora, claro). Na segunda-feira, tudo quase normal, fora aquela leve sensação de fora-do-ar, que beira o agradável. Sobrevivi, enfim.
O evento em questão é anual, realizado no município de Pomerode, e chama-se FESTA POMERANA.
Sem qualquer tipo de hipocrisia, afirmo sem titubear: festa é surpreendente.
Uma espécie de Oktoberfest (versão tupiniquim, de Blumenau), porém bem menor, melhor organizada, menos caótica, com um povo mais bonito, e, como nem tudo são flores, mais familiar (a parte boa é que ano que vem o jovem Otto vai junto).
Pomerode, cidade simpaticíssima, é conhecida como “a cidade mais alemã do Brasil”. Em época de festa ou não, vale conhecer.
Lá reside um povo hospitaleiro, tranqüilo, divertido e o melhor: que adora chopp.
Por aquelas bandas não é nada raro escutar os habitantes nativos conversando em alemão (ou naquela mistura fantástica, do tipo: Es chuvt! Macht die Janelen zu!)
Aliás, não me surpreenderia se descobrisse que eles (os pomerodenses) usam aqueles trajes típicos durante o ano todo. Eles ficam bem de suspensórios.
Cabe ressaltar que além do chopp fenomenal, da música típica, da dança típica e dos deliciosos e leves pratos típicos, para quem também gosta de loiras bêbadas (típicas), simpáticas e de trajes típicos, a festa também é uma boa pedida. Eu parei com estas coisas: Sou bom indivíduo, cumpridor fiel e assíduo dos deveres do meu lar, bom funcionário, cumpridor dos meus horários, enfim: Um amor quase exemplar.
Tratando-se de chopp, na festa há “apenas” seis opções disponíveis, mas escolhidas a dedo.
Apenas, claro, posto que se fôssemos comparar com a versão Blumenauense de Outubro, não haveria como vencer o famigerado “pavilhão das cervejarias regionais” (bossa recente, frise-se), que não sei bem quantas opções disponibiliza, mas fica perto da casa dos vinte.
De qualquer forma, havia quatro modalidades de chopp Schornstein (cuja fábrica fica na própria cidade e é aberta a visitas), e duas da Antactica.
As opções Schornstein eram:
Natural: o “standard” da marca, quiçá o melhor.
Cristal: parecido com o natural, porém filtrado, portanto mais leve e translúcido.
Ale: avermelhado e forte, como bom Ale que é.
Escuro: um chopp com maior teor de álcool, mas ao mesmo tempo suave e adocicado. Se já é bom em clima quente, deve ser excepcional em clima frio.
A Antarctica participou da peleja com suas opções tradicionais: chopp claro e escuro, que dispensam maiores comentários. Como fazia muito tempo que não via chopp da Antarctica, adorei rever estes velhos conhecidos, de tempos idos, mas nunca esquecidos.
Reza a lenda que os pomerodenses, essas notórias máquinas de beber chopp, consomem mais o produto da Antarctica do que o regional (Schornstein), que já é excelente. Uma briga entre titãs (em termos de qualidade, que é o que importa) do mundo da cerveja, portanto.
Na dúvida, peça qualquer um, que não há como se arrepender.
Falando-se em arrependimento, no que tange à festa, só me arrependo por não ter comparecido nas vinte e cinco edições anteriores. Uma lástima.
Como bom desportista da área, e, aliás, como de praxe, pratiquei a boa e velha prova de “revezamento de chopp”. Os resultados foram excepcionais e não houve qualquer tipo de incompatibilidade entre as opções mencionadas.
Nosso time foi composto por uma delegação de peso, que mesmo desfalcada (faltou um lendário motoqueiro malvado e sua respectiva), fez bonito.
Tati, a simpática, bateu recordes de simpatia e conseguiu fazer amigas de infância com mais facilidade do que andar pra frente (andar pra frente já não era tão fácil àquelas horas).
Sir Gora, o lépido, não perdeu o foco da festa (yeah, o chopp!) em nenhum momento, muito embora tenha quase perdido o rumo em alguns. Mas nada que outro chopp não tenha resolvido.
Don Diego de la Vega, que conheci por ocasião da festa (gente finíssima, aliás), representou bem a ala solteira, mas, infelizmente, não marcou o seu clássico “Z” em nenhuma moçoila, ao menos em termos de conjunção carnal (beijo na boca é coisa do passado).
Claudinha, minha queridíssima respectiva, agüentou bravamente o tranco e, mais uma vez, garantiu seu lugar ao céu agüentando as idéias geniais deste que vos escreve as mal traçadas, claro, após uns goles a mais.
Quanto a mim, quem me conhece sabe que não sou de beber muito: no máximo uma tacinha de vinho com a família no natal, ou em ocasiões especiais (dia da árvore, dia do índio, aniversário de emancipação de Pirapora do Bom Jesus, e por aí vai...). Mas mesmo assim, abstêmio convicto, quiçá impulsionado pelo calor da festa, confesso que acabei por tomar um ou outro chopp. Se não me engano, seis. Ou sete. Ou não.
Pra quem quiser se aventurar, a festa vai até este fim de semana (26/1). Bem conversadinho, ainda dá tempo.
No mais, fica meu sincero agradecimento e um abraço a todo pessoal de Pomerode, em especial ao exímio tomador de chopp e mais novo amigo, ilustríssimo Sr. Alexandre, lá da Pousada Max. Uma boa dica de hospedagem, aliás. Fica perto da festa e o café da manhã é excelente.
Voltaremos próximo ano, claro, se o Criador fizer vista grossa e se o fígado permitir...
Ein Prosit!

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