quinta-feira, janeiro 18, 2007

Antes fosse uma pedra no meu sapato

Muitas vezes, percebo que não tenho a devida perspicácia para entender certos modismos. Talvez por ter um estilo de vida um tanto quanto rústico, em alguns aspectos.
Penso que a moda é de certa forma algo muito efêmero, que surge de modo incerto em lugares não sabidos, e muitas vezes acaba passando do belo ao limiar do ridículo em prazos curtíssimos. O tipo de coisa que não merece grande preocupação por parte de nós, pessoas sensatas, esclarecidas e bem resolvidas.
Pois bem. Por ironia do destino, surge então uma nova moda muito peculiar. A tecnologia do aço helicoidal foi devidamente reciclada e agora é amplamente utilizada em calçados de design arrojados (pra não dizer “bizarros”), nas mais variadas cores e tipos. A quantidade de molas sob os pés do cidadão, agora é diretamente proporcional à beleza deste seu adorno.
Já se tornou usual ver um confrade qualquer ser enaltecido pela quantidade de molas que o sustenta. Diálogos como este não são raros, pelos arredores da cidade: - Filha, veja aquele rapaz... Olhe quantas molas! Deve ser um excelente partido. Porque não vai falar com ele?
Até aí tudo bem. Até porque não é de hoje, que as novidades no ramo da moda se mostram quase sempre estranhamente estapafúrdias. E sempre há quem goste. Mas que seja. Cada demente que conviva da melhor forma possível com suas respectivas demências.
Porém, por uma ironia do destino acabei percebendo um detalhe técnico importantíssimo deste produto, da pior forma possível: Empiricamente.
Estava eu andando pelas ruas do centro da cidade, quando tive uma desagradável surpresa ao adentrar ao automóvel: Aquele cheiro tão característico de esterco canino.
Bingo! Bem no meio do pé esquerdo! Minuciosamente espalhado em cada sulco da sola... Coisa linda de se ver.
Como já havia iniciado a excursão automobilística, após certo sufoco, parei somente em meu destino final, para começar o processo de expurgação daquela massa amarelada.
Foi neste exato momento que percebi a extensão da minha sorte.
Não sei se por limites orçamentários ou por simples bom gosto, estava no momento do acidente, trajando um tênis comum, daqueles sem molas ou quaisquer outros mecanismos “extra-aderentes”, que não sejam as ranhuras normais de qualquer calçado.
Não que tenha sido um trabalho agradável. Porém, obviamente tive um esforço muito reduzido, em relação a algum cidadão que porventura estivesse calçando um destes tênis “multi-molas”, ou genérico.
Neste momento tão crítico de minha vida, esta idéia me fez mais feliz.
Não precisei de hastes flexíveis com pontas de algodão (vulgo “cotonetes”), ou qualquer outro artifício extraordinário por dias a fio, para executar a atividade de limpeza. Um pequeno graveto bem manejado, seguido de leves escovadas com água em abundância resolveu o problema escatológico sem deixar quaisquer rastros ou seqüelas.
Como consolo aos que já tiveram suas molas sujas em virtude de irresponsabilidades caninas e encolerizados e com raiva no coração, amaldiçoaram toda e qualquer entidade sagrada, fica a mensagem: Podia ter sido pior: Podia ter sido comigo.
Aos que ainda não sofreram os aborrecimentos de tal conjuntura, e preferem continuar expondo a própria dignidade em nome da moda e da ostentação, fica a seguinte afirmação, parafraseada de um famoso filósofo da família dos “Ponte Preta” (Black Bridge family): “Pra quem gosta de jiló, tamanco é sandália”.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Essas molas são uma falácia. Não quicam, não fazem jogadores de basquete voarem mais alto. Uma releitura apenas interessante para o fabricante, que fatura R$799,90.

Uma mola inelástica.

3:16 PM  

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