quinta-feira, fevereiro 07, 2008

NAN, APTAMIL, NESTOGENO, BEBELAC e outras sandices

Muito aquém da época em que um feriado de carnaval de nível “excelente” exigia ao menos dois comas alcoólicos e uma doença venérea, este ano passei o período de celebração da carne no conforto do lar, sem as grandes empreitadas etílicas, tão características desta época do ano.
Sem a menor dúvida, este foi o carnaval mais tranqüilo que tive na última década. E mesmo assim, foi muito bom.

No intuito de tranqüilizar algum leitor que, porventura, esteja a pensar que este que vos escreve tenha entrado de cabeça no capcioso mundo das crenças ortodoxas, afirmo que continuo com as mesmas acepções religiosas: Nada preocupado em saber se “o Cara” realmente existe ou não, de que cor Ele possa ser, ou pra que time Ele possa torcer... Imagino que, se por acaso Ele existir mesmo, deve estar tanto quanto confuso em relação às coisas mundanas.
Vide a atual conjuntura. E praquele que achar minha opinião assaz intransigente, a ponto de despertar qualquer tipo rancor, é só lembrar-se de Friedrich, o alemão doidão: Convenhamos... Antes confuso do que morto!

De qualquer forma, o motivo de minha abstenção festiva neste último feriado de carnaval tem nome, certidão de nascimento, e endereço. Chama-se Otto, o lépido, e mora comigo, na divertida e estratégica Vaparaízo.
Para aqueles que ainda não conhecem Otto, o sagaz, afirmo que este é um grande amigo, ao qual nutro, embora o conheça pessoalmente há apenas trinta e tantos dias, grande apreço e estima. Além disso, por acaso do destino ou sorte, e até que se prove o contrário, trata-se de minha prole. Como diria Chico, “olha aí, é o meu guri!”
Há até quem diga que virei uma espécie de “homossexual funcional”, por estar, definitivamente, apaixonado por outra pessoa do sexo masculino.
Que seja.

Assim sendo, com o advento de um bebê de trinta-e-tantos dias em casa, as prioridades carnavalescas foram sutilmente alteradas, a ponto de, após muitos anos, me obrigarem a passar o carnaval em local cuja pressão atmosférica não seja equivalente a uma coluna de 760 milímetros de altura, cheia de mercúrio. Em suma, nada de praia desta vez.

Pois bem. Surgem novas prioridades, e assim, tratamos de seguir o rumo natural das coisas.
Eis que me aparece um problema: Otto, o impávido, carece de uma fonte de leite (infelizmente ainda é cedo para a cerveja) alheia à sua figura materna (Cláudia, a pequena notável), que tem um estoque insuficiente do produto.
Sem maiores delongas, a solução para o problema foi o uso de leite em pó especial para recém nascidos (o mais conhecido chama-se NAN), amplamente disponíveis no mercado.
No entanto, visto que existem vários tipos e marcas de leite em pó para a mesma finalidade, surge uma nova questão: Qual seria o melhor para Otto, o intrépido?

No caso das fraldas descartáveis, por exemplo, embora haja no mercado uma variedade muito maior de marcas, cores, tipos e sabores, a comparação fica muito mais fácil: Fazem-se testes empírico-funcionais com cada opção, com parâmetros muito bem definidos, tais como: adequação do formato, conforto aparente, capacidade de armazenamento de líquidos ou sólidos, design (algumas têm bichinhos bem engraçados), ou então a capacidade de vedação em relação ao ambiente externo (esta última é extremamente importante, a fim de resguardar a dignidade do pequeno, e evitar o ímpeto homicida dos pais).

Mas com o leite em pó, a coisa muda totalmente... Como compará-los entre si? Aparentemente, não havia nenhum método empírico eficiente para a escolha da melhor opção (ao menos do ponto de vista nutricional), de custo versus benefício.
Após alguns momentos (cerca de quatro ou cinco) pensando no assunto, resolvi fazer algumas experiências de ordem econômica, prática, e de análise teórica com as principais opções disponíveis no mercado.
Conjecturando sobre quais marcas seriam indicadas para os testes preliminares, resolvi que o primeiro parâmetro de escolha, tendo em vista os limites orçamentários do projeto, e as peculiaridades capitalistas intrínsecas deste mundo que nos permeia, foi o de preço de compra.

Assim, estabeleci um preço de corte de cerca de quinze reais por lata de 400 gramas, de modo a filtrar boa parte das opções (existem opções de mais de oitenta lascas por lata, para crianças com alergia, disritmia, hipocondria, alforria, ou outras frescuras do tipo), e acomodar mais confortavelmente as marcas suscitadas à homologação no orçamento doméstico.
Utilizando este primeiro parâmetro, as opções ficaram restritas às seguintes marcas: NAN 1 (Nestlé), NESTOGENO (Nestlé), NESTOGENO Plus (Nestlé), Aptamil (Support) e Bebelac (Support).

Na continuação dos procedimentos de homologação, Otto, o ladino, ganhou uma lata de cada uma das referidas opções, a fim de iniciar um teste prático, preliminarmente de caráter totalmente empírico: A degustação.
Como já era de se esperar de um rapaz rústico, casca-grossa, e parrudo como ele, não houve nenhum tipo de rejeição a nenhuma das marcas supracitadas. O nível de voracidade foi o mesmo em relação a todas.

Desta forma, passei para a fase dois do projeto, que seria a análise nutricional de cada uma das opções, a fim de saber qual seria (ou quais seriam) o produto mais completo para Otto, o astuto.
Para tanto, utilizei a tabela de informações nutricionais impressa na lata de cada um dos cinco produtos, e desenvolvi uma planilha comparativa, a partir de trinta e nove parâmetros diferentes.
Cada um dos trinta e nove parâmetros de cada um dos cinco produtos foi comparado com os respectivos parâmetros de seus concorrentes, utilizando-se gráficos em barras. Assim, o item cujo valor nutricional é o mais alto, aparece com uma barra completa (100%), e as demais barras relativas ao mesmo parâmetro são iguais ou menores, de forma linearmente proporcional àquela de maior valor. Por exemplo, se o “leite A” possui 200 mg de “vitamina X”, e os seus concorrentes têm apenas 100g, aquele terá uma barra completa, enquanto estes terão uma barra com metade do comprimento.

Caso a senhora não tenha entendido bulhufas, sugiro abrir a planilha que deixei disponível para download num link aí embaixo. Se mesmo assim não entender nada, peça ajuda ao seu marido.

No final do processo, ao ver a planilha completa, com quase duzentos gráficos de barra feitos de forma peculiar, de fácil visualização (se alguém souber uma forma melhor de fazer todos estes gráficos, e ainda assim deixar a planilha com menos de 77kb, me avise), respirei fundo e pensei comigo mesmo, de forma singela: “Mas que merda.”

Infelizmente, não consegui chegar à conclusão nenhuma, ao menos com algum grau de confiabilidade, sobre qual seria a melhor opção... Realmente lamentável.
Além de todas as marcas terem valores nutricionais extremamente próximos, cada opção ganha em pelo menos alguns dos quesitos, em relação às demais.
Não há um notoriamente melhor, ou um notoriamente pior, o que remete a próxima pergunta: Quais parâmetros seriam mais importantes?

Alguns parâmetros são até que razoáveis, sugerem algo saudável e agradável, tais como Vitamina A, Cálcio, Ferro ou Fósforo.
Porém, há alguns itens que são dignos de obras de ficção científica, tais como o perigoso ácido linoléico, ou pior ainda... O mortal ácido ALFA linoléico!!
Pra que diabos servem os ácidos linoléicos? Será bom que o leite tenha mais disso, ou menos disso? Não tenho a menor idéia...

Na mesma linha, temos ainda o obscuro Selênio (me lembra algum líquido especial pra misturar na gasolina, no intuito de limpar os bicos injetores, ou algo assim), o ácido pantotênico (parece coisa de circo), ou o Inositol (este último, sem dúvida, o mais inusitado).

Seria um bom negócio trocar um miligrama de Carnitina por cinco microgramas de vitamina K? Não tenho a menor idéia...
Qual a verdadeira importância da ingestão diária de Manganês na vida do bebê? Vai saber...

Assim, aos pais preocupados que compartilham das mesmas dúvidas, fica a sugestão: Se o pirralho beber todos, comprem o mais barato, e esqueçam o resto.
Caso algum pai tenha um sentimento nacionalista de grau superior ao sentimento capitalista, sugiro que exclua da lista as opções BEBELAC e APTAMIL, que são fabricados na Argentina.

Otto, o voraz, pediu pra avisar que toma qualquer leite que aparecer pela frente e não tem preconceitos contra leites de outras nacionalidades. Mas disse que se aparecer alguma sueca ninfomaníaca com peitões gigantes, vai ter preferência.
Olha aí! É o meu guri!


Faça o download da planilha aqui.

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14 Comments:

Blogger Rafael said...

A planilha está, de fato, bem complexa. Eu chamaria meu marido, mas sou heterossexual.

Otto, o magnânimo, aparenta ter futuro brilhante em relação às fêmeas da espécie! Haha

PS: Nietzsche é o que há. Ou seria "é o que foi", ou "foi o que há"... Enfim...

1:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

Hum.. comecei a me preocupar.. acho que você deveria fazer um estudo agora sobre ração pra cachorro.. imagina.. vai que a pequena Bohemia precisa de manganês e eu não sei.. vai que escolher ração pelas embalagens bonitinhas com cachorros felizes é um erro.. Ai.. eu sou uma desnaturada!..hahahaha
Beijo!..

4:36 PM  
Blogger Felipe "Tito" Belão said...

tava defasado na leitura aqui, cara...
mas genialíssima planilha... se eu soubesse que vc faz planilhas assim pra leite.. ia pedir pra vc me ajudar com as minhas do mestrado.. hauahuahaha

agora um comentário.. Deus pode nao ter morrido, mas às vezes faz de conta..

5:33 PM  
Blogger Conflitante said...

Porra, eu fico "puto" eu eu tento e tento fazer caráter satírico/sarcástico em meus artigos que possuem o material para tal apresentação e não consigo, e vejo que você consegue trazer humor, irreverência, e até um pouco de aventura ao falar sobre leite em pó!
Ah, e essa tabela pode render um bom trabalho de fim de curso para algum nutricionista, com certeza.
Otto, o imponente, um dia lerá esse artigo e se sentirá feliz, presumo.

Atenciosamente,

3:00 AM  
Blogger Unknown said...

Adorei a planilha! E acabo de resolver que o mais barato será o escolhido - sem culpa!

Afinal, como o Otto, o Bruno aqui tomaria até sopa de pedra se eu desse...

Abraço!

8:12 PM  
Anonymous Anônimo said...

Cara, que bom se meu marido tivesse se preocupado como vc de me ajudar com essas coisas, mas por outro lado ele não liga pra essas coisas de preço. Obrigada pela planilha, tá confiável.

5:29 PM  
Blogger Unknown said...

Este comentário foi removido pelo autor.

5:27 PM  
Anonymous Anônimo said...

Popularmente no Ceará a palavra ou abreveatura Nan quer dizer NÃO. DE FORMA ALGUMA. E então esta foi a segunda palavra que foi falada na maternidade.-Trouxe o NAN? De pronto respondi.-Nan! Poisé, mas foi o jeito, Peito que doi, que racha que fere...O Diego Máximo suga com uma voracidade que o peito da minha esposa parece o Bethoven, cada mamada um concerto. E de reparo em reparo la vem o Nan, que causa cólicas, que causa prisão de ventre, que causa desidratação, que destroi o vinculo mãe-filho, que não protege contra infecção.Enfim, que não faz porra nenhuma, segundo a SBP. Pois bem, consultei então um sábio que por acaso é Phd em nutrição humana pela Univesity Of Arizona e ele me falou que segundo um "velho deitado" que ja perdura por anos o que não mata engorda. Então dê pirão de Traira, sopa de Cará leite de jumenta, leite da vaca preta ou da malhada e observe as fezes e urina e só se descabele se feder ou se faltar. Como poderia dizer se assim o fizesse o Falicus Ascendente Otto: Chupa que é de uva!

9:38 PM  
Blogger Luciana said...

É... não ajudou muito, pra falar a verdade, mas, divertiu bastante. Com isso, a pricesinha Valentina vai continuar mamando na mimosa aqui...rs... pelo menos enquanto meus peitões tiverem leite.

9:03 PM  
Blogger Anninha said...

hahaha! Adorei seu texto e os comentários, demais!
Davi, o glutão, se deu bem com Nan, foi o único que dei, após o leite materno.

3:59 PM  
Blogger Raphael B. said...

E então Castor; 2 anos depois, como vai o impávido Otto?
Tal qual você, passei pelo Carnaval que mais pulei em minha vida. Como dizem por aqui, "pulei miudinho" (gíria para quem passa por apuros). Isso porque agora tenho uma nova mulher em minha vida :)
Referente aos leites, imaginei fazer levantamento estatístico como o seu, mas não relutei em pesguntar ao Sr. Google se já havia visto algo similar. Essa foi a forma como encontrei seu relato.
Porém, sua famosa planilha não mais está disponível para download.
Seria possível disponibilizá-la novamente para download.
Grande abraço.
Raphael

9:43 PM  
Anonymous clau said...

Agora sim volto a me achar humana, vendo que outras pessoas tem a mesma duvida Que leite dar aos nossos bebes afinal ? que culpa, que medo. depois de dois meses o leite do peito simplismente vai diminuindo e agora o que fazer????? valeu me sinto melhor

5:46 PM  
Anonymous Vanessa said...

Otto, o espevitado, agora tem seus 4 anos... mas meu Guilherme apenas 6 meses e precisa começar com a mamadeira! Assim volto a trabalhar mais tranquila (ou não).
E esta também foi minha dúvida.
Pena que a tabela não está mais disponível! Pois estava pensando em fazer algo do tipo para comparar.
Como já trabalhei em fábrica de ração, e as melhores rações levam mais proteína, acho que vou dar prioridade à Proteína do produto. Afinal de contas ele já está com papinha de vegetais mas não tem carne.
Adorei seu texto!

8:33 AM  
Blogger Unknown said...

Olá...gostaria de visualizar a tabela....

7:17 PM  

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