quarta-feira, março 05, 2008

Nos bastidores da história - parte I: Moisés

Moisés é chamado às pressas.
Quando chega percebe toda aquela arruaça, e ao ver o ocorrido, pronuncia em tom profético:
- Puta que pariu, hein, Severino!! Mas que bosta!
Severino, o aspone, não sem antes resmungar algo próximo de “isso que ele não viu antes da gente limpar o mais grosso...”, responde:
- Pois é, Dotô Moisés... Acabou que deu merda...
Sob os olhos acusadores de todos, e após uma breve alisada na barba, Moisés retruca, com um tom um pouco mais tranqüilo:
- Pois é... Eu falei que ia dar galho, moçada... Mas agora já era.
Interrompendo o velho sábio, Wilberson, o Office-boy, um jovem não muito sagaz, mas sempre atento, retruca:
- Podemos dizer que já estava desse jeito quando chegamos aqui... O que acham?
Moisés, que até então se mostrava sereno, bradou em tom ameaçador:
- Porra, Wilberson! Já falei pra você, energúmeno! O chefe é onipresente, onisciente, onipotente, e coisa e tal! Não vai rolar de enganar o cara! Ou então vai ficar pequeno pro nosso lado! Ninguém tem alguma outra idéia?
Todos se calaram. Eis então, que ecoa uma voz convicta no meio da multidão, quebrando aquele silêncio tão constrangedor:
- Cola com durepox, mané!
Em meio a xingamentos, risadas, tapas na nuca e gritos de “pedala!”, o infeliz sujeito foi devidamente calado.
Após o breve alvoroço, o silêncio embaraçador foi retomado, sendo quebrado novamente apenas pelo velho ancião, que proclamou, para espanto de todos:
- Façamos assim... Caso alguém perguntar alguma coisa, falamos que o mar se abriu e nós passamos, e fica tudo por isso mesmo... Procurem não entrar em detalhes, que ninguém vai desconfiar de nada, beleza? Mais alguém viu alguma coisa?
Uma voz anônima responde prontamente:
- O cara da guarita viu tudo! E agora?
Moisés, que dentro daquela velha carcaça encobria um espírito jovial e astuto, respondeu sem titubear:
- Larga duas garoupas na mão do cara, e diz que é pra ele ficar na miúda. Estamos acertados?
Em meio ao murmúrio coletivo, Moisés se retirou do local pra enrolar mais um cigarrinho, a fim de tentar fazer contato com o chefe.
Nada mais foi dito, nem perguntado.
Os presentes acataram unanimemente a sugestão de Moisés, o cara da guarita levou seus duzentos mangos pela boca de siri, e tudo parecia estar resolvido.
No entanto, ninguém conseguia parar de pensar: Como será que iriam contar toda essa história dali a uns 3000 anos?

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6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

hahaha.. Quando eu venho aqui ler seu blog.. dá aquela sensação de dever cumprido.. de orgulho, sabe?Felicidade mesmo.. porque eu sei que nossos horários corporativos não tem sido em vão.. que todas essas coisas bizarras e malucas que conversamos envolvendo Moisés, Jesus, tóxico e o mar.. tem um sentido.. um pq... hahahahaha
Beijos!

2:24 PM  
Blogger Rafael said...

Esquizofrênico é eufemismo. No entanto, é uma versão muito mais plausível que a que estamos acostumados a ouvir.

A habilidade de interpretar textos tão antigos é rara! Normalmente lêem, e "traduzem" para a linguagem corrente, com o uso de termos coloquiais e gírias... Mas enxergar através das palavras, é algo impressionante!

2:27 PM  
Blogger Felipe "Tito" Belão said...

haahhahaha

blasfêmico e genial...
um dos melhores de todos

11:23 AM  
Anonymous Anônimo said...

Que Deus lhe perdoe por tamanha blasfêmia.
No dia do juízo final seremos todos iguais.
Que Deus lhe perdoe por zombar da palavra divina.

2:37 PM  
Anonymous Anônimo said...

"Zombar da palavra divina" - definitivamente fé e senso de humor parecem não figurar no mesmo palanque.

7:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

...E DEUS, no alto de sua onipresença, e para sorte dos pecadores, havia se ausentado nesse dia.

Essa série promete!! Parabéns!!

12:15 AM  

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