segunda-feira, outubro 19, 2009

Quer fumar quanto?

Esta segunda-feira, além dos itens de série típicos, como cansaço, céu cinza e mau humor, trouxe também, como acessórios de luxo, uma dor de garganta regada à própolis e um atraso no trabalho por conta do horário de verão.
Uma segunda-feira ideal para, ao final da labuta cotidiana, se tomar uma boa cachaça mineira ou se suicidar. Na dúvida, fui de Boazinha.
Segunda-feira, aliás, que antecedeu um sábado dedicado ao obscuro estudo dos conceitos subjetivos da subjetividade contida em si mesma. Subjetivamente falando, claro.
O evento, de caráter interestadual, tomou parte num dos estabelecimentos mais contundentes da capital paranaense: O Schwarzwald, que por motivos óbvios (principalmente a partir do terceiro ou quarto submarino), é conhecido como ‘Bar do Alemão’. Fica bem ali no meio do contraditório Largo da Ordem, não tem como errar.
Entre os diversos temas completamente aleatórios e extremamente pertinentes, discutiu-se também sobre a nova onda de proibição alucinada, benchmark da inquisição espanhola, que ocorre aos poucos, sorrateiramente, na ala curitibana do grande hospício chamado ‘mundo globalizado’.
Logo após a famigerada ‘Lei Seca’, o despropósito mais recente é a tal lei ‘anti-fumo’.
Áreas de fumantes serão, daqui a alguns meses, sumariamente extintas da capital paranaense.
Restarão como locais (com teto) para a prática desta modalidade apenas as tabacarias, os terreiros de umbanda, e os humildes lares dos fumantes, estes miseráveis.
Até aí tudo bem.
Afinal não estranharia se, pelo princípio da concisão, parte das leis em vigor fosse agrupada em apenas uma sentença, que seria algo como “É proibido se divertir” ou similar.
Ou ainda, de forma mais abrangente, que o princípio da legalidade fosse invertido, criando-se uma lista das práticas legais e presumindo-se a ilegalidade das demais por simples praticidade.
Enfim, a estupidez humana não me assusta mais. O que ainda me assusta é esse clima de ingenuidade coletiva que paira no ar.
São as discussões públicas acaloradas sobre temas sem pertinência real.
Explico com um exemplo:
A antiga lei municipal que dispunha sobre os locais de fumo era efetivamente cumprida?
O texto da lei antiga era ineficaz ou insuficiente claro a fim de proteger os não-fumantes do martírio da fumaça do cigarro?
A nova lei, ainda mais rígida aos fumantes, estes degenerados, será efetivamente cumprida?
Arriscaria dizer que as respostas seriam, respectivamente, não, não e não.
Posto isso, a única explicação plausível é que a idéia seja justamente super dimensionar a proibição do texto legal, já antevendo que o seu cumprimento será pífio.
Algo como obrigar sua filha a usar burca e não se aproximar de qualquer homem até os trinta e cinco anos, na esperança que ela ao menos não vire prostituta aos dezoito.
E foi com base nestes sólidos argumentos que, sob os auspícios de uma noite de sábado, fizemos um protesto nebuloso.
Num momento épico, já um pouco exaltados pelo fluxo das canecas, fumantes e não fumantes uniram-se, cada qual ao seu modo, para fumar como se não houvesse amanhã.
O cigarro escolhido foi um mentolado de embalagem bonita, pelo belo design da embalagem e por seus efeitos expectorantes, notoriamente benéficos à saúde, ou não.
Entre a penumbra esfumaçada do ambiente, era possível distinguir vários estilos de fumar, que iam desde o ‘estilo gerencial’, jeitoso e sóbrio (nem tão sóbrio), até o estilo ‘Preto Velho’, conhecido internacionalmente como ‘Old black guy smoking style’. Este último pouco elegante, porém extremamente eficiente no propósito de espalhar fumaça no ambiente.
E foi assim que, de forma bizarra e por alguns poucos instantes de uma noite de sábado, a fumaça incomodou, espantou os demônios da imbecilidade e trouxe um leve gosto da boa e velha liberdade.
A mesma liberdade que, segundo Lênin e a prefeitura municipal, de tão preciosa que é, deve ser cuidadosamente racionada.

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5 Comments:

Blogger Dois cigarros e um café. said...

Sabe amigo, não sou a favor de nenhum tipo de proibição, por mim as pessoas poderiam até andar pelados, é uma foda mal dada essas proibições e nesse país fudido onde se tem mais atenção nessas leis ridículas do que a marmelada de nosso congresso, é como ver os paulistas gritando "fumante aqui não!" e respirando aquele ar de merda deles, enfim, cada um com suas bostas.

Eu continuo aqui com meu cigarrinho e juro (já está combinado isso mesmo) que irei a um lugar cheio de não fumantes e soltarei um sonoro e fétido peido perto da mesa deles, e quero ver criar agora a lei anti pum.


Beijundas ^^

5:04 PM  
Blogger As zul said...

A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau. (Mark Twain)
Prezado itinerante poético de textualidade originária provavelmente das prazerosas conversas com companheiros a compartilhar da boa cachaça mineira. Sem ofensas, claro! Uma vez que elevo o elogio aos seus textos como tempo de prazerosas leituras.
Se tal lei será cumprida com necessário vigor, partilho da sua opinião, mas simpatizo com a lei. Uma vez, em vigor, se o estabelecimento cumprirá ou não conforme determinação do Estado, caberá a estes fumantes o princípio da educação em respeitar aqueles que não partilham do mesmo “prazer”, e nisto acredito, terá mais peso que o Poder Legislativo.

Como Twain; degrau por degrau, a lei vem colaborar para reflexão dos fumantes se não é valido largar do “hábito”, uma vez que a sociedade esta fechando o cerco para estes, mas este é outro assunto...

Abço!
de
As
...
Fumante !

2:01 AM  
Blogger Unknown said...

Claro que essa lei vai servir para alguma coisa! ! ! Vai servir para que os bares não possam, em hipótese nenhuma, criar ambientes com exaustores por exemplo, específicos para fumantes não prejudicarem os outros. Também vai servir para que qualquer estabelecimento que venda cigarros corra atrás de um alvará de tabacaria. . .

Sabe qual é o meu medo? Daqui a pouco podem perceber que a lei seca é uma palhaçada, podem considerar o álcool como um problema de saúde pública (que aliás mata muito mais pessoas, sejam elas adeptas ou nao desse hábito, que o cigarro ou provavelmente que todas as outras substancias lícitas ou ilícitas somadas) e proibi-lo. . . Podem acabar proibindo os bares de abrirem as portas. . . Não deveriamos estar caminhando pro outro lado não?

5:42 PM  
Anonymous Papai Urso said...

É meu amigo, o cerco está fechando, e espero que não extrapole os limites como o rodrigo falou!!! Mas como aqui no nosso querido país Lisarb, onde tudo(ou quase) está de ponta cabeça, temos a famosa lei maior (e nao estou me referindo à Carta Magna) do "não pegou", onde a lei, para ser aprovada efetivamente tem de passar, além dos trâmites legais pertinentes, pelo crivo extralegislativo do grande líder vagabundo deste país: O Povo!! E caso este ente não vá muito com as fuças desta lei (como aposto que não vá) ela não será respeitada, muito menos fiscalizada.

11:52 AM  
Anonymous Dane said...

queridos, e não é que dois anos após...

12:05 PM  

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