quarta-feira, abril 15, 2009

Da ressaca

Uma boa ressaca convém ser devidamente degustada.
A leve sensação de desligamento das coisas mundanas, a confusão mental e a lentidão de raciocínio, quando não acompanhadas de mal estar físico em níveis intoleráveis, chegam ao limiar do aprazível.
Afinal, a mesma não deixa de ser um estado de entorpecimento, mesmo que escoltada por porções de entusiasmo infinitamente inferiores às usualmente registradas na véspera.
A ressaca perfeita exige um dia de céu cinza, podendo ser eventualmente acompanhada de uma garoa leve. O clima deve, na medida do possível, se adequar às condições físicas e espirituais do protagonista.
Ressacas em dias de céu muito límpido costumam gerar conflitos existenciais insuportáveis, seguidos de balancetes de cunho moral, promessas irrealizáveis, suicídios, entre tantas outras baboseiras do tipo.
Há ainda quem considere a ressaca como o próprio castigo divino, que compensaria o deleite exagerado da véspera, uma suposição que pode ser facilmente desmentida através de duas simples considerações: O mundo definitivamente não é justo; Jesus bebia vinho (mesmo quando só havia água disponível) e mesmo assim precisou ser crucificado.
A verdadeira ressaca deve ter, sob pena de tornar-se contagiosa, índole puramente introspectiva.
Pois muito embora a bebedeira seja uma modalidade esportiva habitualmente praticada de forma coletiva, a ressaca é invariavelmente individual. E não é passível de alienação, absolvição ou procrastinação (a não ser que se emende outro porrete, o que nem sempre é possível, infelizmente).
Enfim, a ressaca tem caráter personalíssimo e de cumprimento sumário.
Bebeu, tomou. Simples assim.
Alguns até classificam-na como doença. Doença incurável, que conste nos autos.
Afinal os sintomas podem ser combatidos com inúmeras panacéias milagrosas, sintéticas ou não, mas a essência ressaca sempre permanece ali, constante, permanentemente alojada na alma sujeito, até segunda ordem do criador.
Particularmente, recomendo, além dos analgésicos, antiácidos e isotônicos de praxe, algum samba bem sincopado de Nelson Cavaquinho, Wilson Batista ou Paulinho da Viola, preferencialmente na voz de João Nogueira (os do Paulinho podem ser por ele mesmo).
Para situações clínicas mais graves, quando nada mais funcionar, recomendo Lupicínio Rodrigues na voz de Jamelão, porém mantendo sempre certa distância de armas de fogo, objetos cortantes, grandes alturas, e afins, que é pra garantir a ressaca da próxima semana.

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6 Comments:

Anonymous Mel said...

Cartola é meu companheiro preferido nos dias de ressaca...

Beijos!!!

2:50 PM  
Anonymous Srta. Rosa said...

Hahaha, querido, transmimento de pensação. Não é que eu passei o domingo exatamente nesse mood ressaca? Pior, com sol do lado de fora, a piscina olhando pra mim e eu dizendo: - Maldita, não me tente justo hoje, que estou naqueles dias.

5 capirinhas sábado à noite. Blé.

Besos, querido. (A trilha tá aprovadíssima)

4:04 PM  
Anonymous Maíra said...

A ressaca é um troféu... a prova.. porque se houve uma ressaca quer dizer que houve um porre e quer coisa melhor? Bem... menos quando você tem a brilhante idéia de bater vodka com danoninho no liquidificador.. e termina abraçada ao vaso.. e já começa a ouvir Odair José cantando "eu vou tirar você desse lugar" pra você... aí, com certeza, é tudo.. menos uma benção.. hahahahaha..
Beijos ilustríssimo.. Sensacional como sempre..

10:18 AM  
Anonymous Francisco Gick said...

ressaca é alteridade. melhor posto, a ressaca é a continuidade da alteridade que antes se buscou (e, com sorte, se encontrou) no copo - ou nos copos, ou latas, ou garrafas, ou mesmo vidros, e dizem que até em sapos. com alteradores de consciência é sempre assim, busca-se um estado de não-ser, ou de ser sendo coisa outra que não aquela que se é cotidianamente. diz que a gente sempre busca a farsa - a alteração, um outro estado -, o Ortega-y-Gasset, no "a idéia do teatro", sustenta que a busca pela alteridade emana da própria condição humana de limitação, ou seja, a apartir da consciência da limitação de nossa existência buscamos na ficção, na farsa, possibilidades outras, transcendentais que diluam a aspereza da vida; e daí vem o culto, o ritual, a festa, a farsa, a bebedeira e dela a ressaca. pois a ressaca é mais lembrança de ontem, uma memória hepática de ontem, e como memória não encontra dentro de si sua caracterização definitiva, senão que é definida pelo porre - a ressaca é uma cápsula do tempo. mas o ensaio é teu, e meu comentário cavalga em direção a um tratado - um comentário equino rsrs. apenas permita-me aderir à trilha: Cartola, Zé Keti, Luiz Melodia, Jair Rodrigues, o genial "ode descontínua e remota para flauta e oboé - de Ariana para Dionísio" - produzido por Zeca Baleiro - e o "pássaro da manhã" da Bethânia.

3:56 PM  
Blogger As zul said...

Do dicionario da Lingua portuquesa...
ressaca | s. f.
3ª pess. sing. pres. ind. de ressacar
2ª pess. sing. imp. de ressacar
ressaca
s. f.1. Movimento violento das ondas sobre si mesmas, quando vão de encontro a um obstáculo; refluxo das vagas.
2. Porto formado pela preia-mar.
3. Ant. Retaguarda.
4. Fig. Volubilidade.
5. Gír. Mal-estar depois de embriaguez...

Faltou os seu anexo cara hahaha, muito bom!!!

9:58 AM  
Blogger cadimachan said...

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3:05 AM  

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