quarta-feira, junho 04, 2008

Pedagogia, filhos, surras e afins

Como não sabia o que escrever, resolvi divagar sobre algumas peculiaridades da minha infância, fazendo um paralelo aos métodos pedagógicos utilizados na educação do pequeno Otto (esse cara aí da foto), ao menos até eu ficar rico e mandá-lo pra um colégio interno.
Assim, ao invés de divagar sobre o mundo, desta vez divago sobre mim mesmo. Quem não gostar... Ah... P.N.C. de quem não gostar!


Nas últimas décadas, podemos observar uma notável mudança nos métodos pedagógicos empregados pelo cidadão médio (alguém conhece esse cara?) no tocante à educação de seus filhos, os cidadãozinhos médios.

O mesmo método que um dia já foi procedimento de praxe, hoje é enquadrado muito próximo ao crime de tortura, logo, algo abominável e desumano. Vide, por exemplo, as instrutivas palmadas na bunda, praticamente extintas do mundo dito civilizado.

Antes que algum psiconheconheco (neologismo emprestado*) de plantão venha me achincalhar, devo lembrar que há um leque infinitamente amplo de possibilidades para a punição de infantes, que vai desde a abstenção do monstrinho ao vídeo-game, até esganá-lo e tacá-lo do sexto andar.

Assim, ao menos pra quem ainda tiver algum (anda em falta no mercado, mas reza a lenda que está pra chegar mais), recomenda-se o uso de porções homeopáticas de bom senso em casos que exijam repreensões aos pequenos, principalmente em situações extremas, nas quais o ímpeto sadista dos pais costuma alcançar índices elevadíssimos, que deixariam até Pol Pot perplexo.

No tocante ao meu adestramento, certamente não há como afirmar se eu quico ou não, visto que nunca fui atirado do sexto andar. Porém, já levei uma ou outra palmada pedagógica quando moleque, e pro desespero dos defensores da anarquia juvenil, devo confessar que tais castigos não me causaram nenhuma grande seqüela ou distúrbio psicótico, ao menos em relação ao que foi descoberto pelas autoridades até o presente momento.

Tive uma criação peculiar.

Já nos tempos de bebê, fui poupado de algumas vacinas (se não me engano, as de campanha), já que segundo meu progenitor (que também tem lá suas teorias “fora-da-casinha”), estas serviriam para doenças praticamente erradicadas, praticamente inúteis, portanto.

Com antibióticos foi o mesmo esquema: Tomei-os, pelo que me consta, apenas uma vez, depois que vários dias de chá de boldo com mel e erva cidreira não resolveram o problema. Afinal de contas, remédios baixariam minha imunidade e, assim sendo, precisava esperar que a própria natureza fizesse seu trabalho. Remédios, só em último caso, e na maioria das vezes, aspirina ou própolis (que notoriamente, cura todos os males já catalogados).

Não tenho como saber se esta realmente foi uma boa decisão, porém, uma coisa é fato: Até hoje sigo muito bem, caminhando e cantando e seguindo o refrão.

Fora uma ou outra gripe ou uma eventual dor de garganta, ao menos pelo que me lembro, nunca senti sinais de quaisquer outras doenças, o que me faz concluir que, já que não as sinto, devo estar apenas transmitindo-as. Não pego doença, só passo: Coisa de gente assim, casca grossa.

Já nos tempos de escola, havia mais uma regra: Faltar aula, jamais. Doenças eram motivos para falta apenas se eu já estivesse agonizando, a enxergar uma forte luz branca no final dum túnel escuro...

Em uma ocasião curiosa, tive a amarga experiência de ser o único aluno da minha classe a comparecer à aula. Era dia de jogo da seleção brasileira (de futebol, por óbvio), e na véspera a professora havia dito que não precisaríamos comparecer, pois não haveria nenhum assunto importante. Afinal de contas, em dias de jogos decisivos o quórum costumava ser muito baixo.

Obviamente meu pai não acreditou na história, e me despachou pra escola. Acabei assistindo a aula em outra classe, onde havia outras quatro crianças... A situação só não foi totalmente frustrante, porque era época de festa junina, e por ali eu era o único ser vivo que sabia fazer balõezinhos de papel, o que me tornou praticamente um popstar naquele dia. Menos mal.

No mais, minha infância foi, com exceção de certas aulas de piano, relativamente sossegada e bastante divertida.

Porém, agora a situação se inverte. Com o advento do jovem Otto, fico eu no papel de progenitor (até que se prove o contrário), e ele, no de prole.

Em relação às vacinas, não tenho o mesmo embasamento acadêmico para suspendê-las, ficando esta parte, portanto, a mercê da doutora Carol (vulgo “Frau Gabardo”) e sua girafa de estimação. No tocante a indicativos, pelo tamanho e a cor das bochechas do guri, acho que ela está fazendo um bom trabalho. Como se diz nas longínquas terras do norte, sem a menor sombra de dúvida, esse “vingô”.

Quanto a regras, normas de conduta, valores morais e todas essas baboseiras que ninguém mais liga hoje em dia, eu penso que ainda seja um pouco cedo para maiores preocupações em relação ao guri, tendo em vista a recente data de nascimento deste (com cinco meses, o próximo desafio é ficar sentado sem cair pro lado).

De qualquer forma, como não podia deixar de ser, ele já vem seguindo as diretrizes oficiais da casa, criadas há certo tempo por mim e pela sua figura materna, a pequena Cláudia (que está no ranking das 10 melhores mães do sul do mundo), a fim de possibilitar uma convivência harmoniosa entre nós (agora) três, da mesma forma que já acontecia entre nós (antes) dois.

A fim de exercitar certos métodos hermenêuticos, optamos por uma constituição enxuta. Logo, são poucas premissas, mas todas de alto valor científico-moral, elencadas a seguir:

1) Nada de briga;

2) Nosso forte é a dança.

Até o presente momento, o jovem Otto vem se adaptando muito bem a todas estas regras, e vem demonstrando um grande talento para a dança, além de sofrer de “riso frouxo”, o que me leva a crer que seja mesmo oriundo de meus grãos.

Recomendaria ainda, que todos os leitores seguissem estas regras de convívio, no entanto, sei que o criador não foi generoso a ponto de distribuir o divino dom da dança a qualquer um. Assim sendo, peço que tentem ao menos não brigar. Já ajuda bastante, e evita perda de tempo.

Quanto ao pequeno Otto, minhas expectativas sobre seu futuro são excelentes. Sinceramente, espero que muito em breve ele se torne um brilhante articulador político, e chegue à condição de grande ditador das Américas, a fim de unir todo o continente sob seu comando. Algo meio assim, sem precedentes na história da humanidade.

Contudo, se ele for um cara gente fina e não virar veado, tudo bem, já fico satisfeito.

*Muito obrigado, Margit Müller, pela contribuição, ainda que não-autorizada.

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4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Queridissimo Dr. Brehm

Pequeno Otto está cada dia mais gracioso, se eu tivesse uma filha.. eu faria um acordo pra casá-la com o Otto.. como ainda não tenho.. o que posso fazer é oferecer o que faz a vez de.. minha samambaia..haha
Felizmente.. ou infelizmente.. não sei ao certo ainda.. minha mãe era o oposto.. exagerada, dramática e quase hipocondriaca.. acreditava muito em vacinas e em porcarias sintéticas que aliviam a sensação de mal estar... até agora parece que a criação deu certo... mas.. só um terapeuta pode avaliar coerentemente...

10:44 AM  
Anonymous Anônimo said...

Elementar meu caro, seguindo essas receitas de ensimo de vida e particular, talvés conseguiremos formar jovenzinhos dispostos a mudarem a grande m@$$% q está o planeta, ou um comandante disposto a defender nossa amazonia!
Quem sabia um dia poderei desfrutar dessa conquista que criar ensinando um homo sapiens! (sempre seguindo a cina "não faça nada que eu não faria")!
um forte peteleco nas orelhas, e apareça em uma sexta de sol logo apos o expediente para degustar o famoso drinque dos Deuses a cerveja no mesmo bar de sempre!
abs!

1:16 PM  
Blogger Felipe "Tito" Belão said...

Esse negócio de não brigar no código de conduta pede mais outras regras complicadas...
dançar então... por mais que não brigar seja difícil prefiro ficar com esse a ficar com a dança... uma vez que só danço mesmo depois de algumas cervejas... e muito bem pelo que me lembre, se bem que uma vez também achei que sabia cantar...
enfim..

8:47 AM  
Blogger 9970 said...

Tudo depende de quão rústico vc espera que o pequeno Otto venha se tornar na vida adulta, acho que aquele nosso colega, o JGJ, é um belo exemplo....

8:10 AM  

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