segunda-feira, junho 09, 2008

Carta aos ETs, parte V - Dos dias da semana e da felicidade do ser humano

Carta aberta aos seres, proletários ou não, que vierem a tomar conta (ou terminar de arrebentar) esse mundão chamado Terra depois que nosso contrato vencer.


Pra quem perdeu a primeira parte.

Pra quem perdeu a segunda parte.

Pra quem perdeu a terceira parte.

Pra quem perdeu a quarta parte.


Embora tenha sido responsável pelo surgimento de inúmeros artifícios tecnológicos que viabilizaram o atual modo de vida ocidental, tais como o pão de forma, a bomba de chimarrão de aço inoxidável e o barbeador elétrico, não há como negar que os novos tempos também trouxeram certos infortúnios ao homem moderno.

Infortúnios estes, que foram incluídos no mesmo pacote pelas letras miúdas do contrato, e chegaram presos em alguma parte da grande locomotiva do progresso, que, ao menos enquanto ainda houver combustível a ser queimado (de preferência, que faça muita fumaça) insistirá por mais um bom tempo nesta longa e insana corrida, que começou em lugar nenhum e tem destino incerto e não sabido.

Pois bem. Mágoas à parte, já estamos (ou deveríamos estar) acostumados com esta tal “civilização humana”, que tem o detestável costume de afagar com uma das mãos, mas que com a outra cutuca os lugares mais inconvenientes.

De certa forma, algumas situações, normalmente crônicas e irremediáveis, mostram-se extremamente peculiares no tocante às frustrações humanas.

Um exemplo clássico é a percepção do cidadão mediano em relação às definições de “dia de semana”, “fim de semana” ou “feriado”.

Cá na Terra temos sete dias que se repetem ciclicamente, no intuito de formar conjuntos, aos quais chamamos de semanas. Não há como precisar donde surgiu esta idéia, porém, acredito que seja mais uma obra da própria natureza humana, que insiste em se mostrar periodicamente enfadonha.

Alguns afirmam que a idéia tenha sido dum camarada que há muito tempo atrás criou este mundo em seis dias e descansou no sétimo, e depois transmitiu esta mania tosca aos demais (os quais ele resolveu fazer à sua imagem e semelhança, só de sacanagem).

Outros afirmam que se trata duma grande manobra imperialista a fim de oprimir o povo a trabalhar durante cinco dias e descansar somente dois, de modo a fazer com que alguns poucos se locupletem com a mais-valia do processo.

Acredito que a primeira hipótese seja inconcebível no que tange à primeira regra de engenharia de projetos, que afirma categoricamente que prazos foram feitos para serem descumpridos. Em relação à segunda hipótese, minha religião não permite acreditar em tais teorias conspiratórias. Sou ortodoxo, mas sou limpinho.

De qualquer forma, para a grande maioria da casta proletária da humanidade, com exceção daqueles que possuem tetas pecuniárias permanentes (conhecidos, de forma pejorativa, como “funcionários públicos”) e dos que trabalham em funções extremamente específicas (degustação de cerveja, por exemplo), os níveis de contentamento com a vida costumam sofrer variações fantásticas em virtude das mudanças nos dias da semana.

Enquanto a simples menção da palavra “segunda-feira” causa enjôo, mal-estar, fadiga ou até tendências suicidas em certos indivíduos, o vocábulo “sexta-feira” é fonte perene de inspiração do amor, da poesia, da bazófia desmedida e de tantas outras fontes de contentamento.

Em situações cotidianas, os demais “dias úteis” não têm magia suficiente para ostentarem tais semblantes lúdicos, quiçá por não possuírem a tristeza sincera ou o júbilo exorbitante das segundas e das sextas, respectivamente.

Ou quem saberá ainda, se as terças, quartas e quintas não perderam aos poucos o brilhantismo em virtude da total falta de personalidade que mostram quando insistem em também usar o sufixo “feira”. Não há como precisar, mas uma coisa é certa: São dias insossos.

Já os feriados, são como aves migratórias carregadas de felicidade, que, procurando boas paragens para seus ninhos de regozijo, pousam despretensiosamente em dias quaisquer, salvo uma ou outra espécie de “dia certo”, como a pitoresca ave carnavalesca, por exemplo, que se mostra notoriamente mais perspicaz que as demais, especialmente em terras tupiniquins abaixo da linha do equador.

Porém, vez ou outra estas aves de feriado pousam em dias escusos, como os fins de semana. Neste caso, criam-se feriados redundantes, que são, basicamente, como espirrar na farofa: Uma besteira.

Quanto aos fins-de-semana, não há mais muito que se falar. São dois dias recheados de contentamento, em que o nível de felicidade proletária atinge seu ápice.

No intuito de ilustrar este sentimento, mesmo sem a devida vênia, parafraseio o grande Vinícius, quanto disse que: se há a perspectiva do domingo, é porque hoje é sábado.

Na mesma linha, a fim de completar a semana e estas mal traçadas, afirmo ainda que se a noite escura insiste em pairar sobre um dia cinzento de domingo, é porque há perspectiva de segunda-feira.

Ou então, de suicídio. O que acontecer antes.

Continua...


"E quando você menos espera,

Ele dá alguns mimos também.

Como o magnífico andar de uma

linda mulher, quatro passos

à sua frente....

ai ai ai ai.... (enorme suspiro)”

A.G.J.

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2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Queridíssimo Dr. Brehm, por isso que quando eu for Deus vou mudar umas coisinhas nesse negócio de processo de criação. Vou descansar na quinta, na sexta, no sábado e no domingo. Já a segunda-feira será conhecida como o dia nacional da ressaca da criação, garantido, assim, o tema para o feriado semanal.

1:22 PM  
Blogger Felipe "Tito" Belão said...

marcão,
só um adendo: uma das mais brilhantes criações da humanidade é a sanduicheira...

no mais é a sexta e a pior é a segunda...

porém, não há dia pior que os domingos de solidão...

8:52 AM  

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