terça-feira, julho 01, 2008

Junte-se aos bons, e será um deles

Tudo o que aqueles dois queriam era uma noite de algazarra sincera, como aquelas que costumavam acontecer nos tempos idos, nunca esquecidos.

Relembrar um passado recente, antes de largarem a vida desregrada - ao menos em parte...- e morarem sob o mesmo teto, juntos com aquele anãozinho simpático - acho que é um gnomo - que responde pelo nome de Otto. Meio mala às vezes, mas no geral, gente finíssima.

Afinal de contas, há poucos meses atrás, acordar de ressaca no sábado ou no domingo era coisa de praxe. Cotidiano. Procedimento de rotina.

As ressacas eram inconvenientes, por óbvio, como todas as ressacas devem ser. Mas ainda assim, suportáveis.

Algumas bem leves, das que proporcionam uma zonzeira sutil, e aquela leve sensação de fora-do-ar, que beira o agradável.

Já em casos mais extremos, a coisa era de arrepiar os cabelos das regiões mais longínquas do corpo do sujeito, e a simples menção da palavra "álcool" - substituir a palavra "álcool" pela(s) bebida(s) da véspera - trazia desejos de morte ou de dor, no maior estilo Lupicínio, a quem parafraseio nesta ocasião, a fim de melhor ilustrar estes sentimentos:

(...) Deixa-me sofrer que eu mereço,
Por um pouco que padeço,
Não paga um terço do que fiz,
É tão grande, tão horrível, meu pecado,
Que eu sendo assim castigado,
É que me sinto feliz. (...)

Claro, sempre há pessoas com os nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração, que não conseguem entender a profundidade espiritual da ressaca. Mas, sinceramente, não sei se passando o que eu passo, não lhes venha qualquer reação: Afinal, o método empírico é sempre muito mais didático.

Enfim, o dia seguinte nunca é realmente agradável, mas também não é nada que um coquetel Molotov contendo aspirina, paracetamol, engov, hipocler, eno, pó de café e porções homeopáticas de vodka não resolvam.

E foi assim que eles, num estado de iluminação espiritual – em alguns bairros, chamado de "estado de embriaguez" -, decidiram que se fazia necessária uma festinha. Com urgência.

Uma noitada sem maiores pretensões, com local certo, mas sem quaisquer cronogramas.

Uma noite pra escutar um bom som, beber uma boa bebida, e, com a devida calma e serenidade que a atividade merece, falar muita merda. Travar aquelas conversas que começam numa discussão sobre a cor do rótulo da cerveja, e que, passando por assuntos tais quais a metafísica, a crise no oriente médio, o carro movido à água, ou a melhor marca de chimarrão, nos fazem concluir que a migração das andorinhas não é mais como era antigamente, como nos bons e velhos tempos, quando os videogames tinham um botão só. Ou você pulava, ou atirava. Ninguém pula atirando! Não é de Deus!

Para tanto precisavam, basicamente, de duas coisas: Uma data, e um local.

Abster-se-iam de motivos. Afinal, é de conhecimento notório que as melhores festas não têm motivo algum. Faz-se indispensável apenas o "animus festandi", que junto com algumas doses de vodka ao sair de casa, criam no cidadão os níveis necessários de entusiasmo.

Um bom dia, um bom bar.

Embora suas companhias recíprocas já fossem suficientes para locupletarem seus objetivos no evento, e até que se prove o contrário, na vida, chamariam ainda, quem cruzasse seus caminhos em tempo hábil.

Estariam automaticamente convidados todos que se habilitassem para tanto. As metas estavam traçadas: Beber cerveja, falar merda e rir à beça.

O dia, que fosse sexta-feira, posto que costumava dar sorte. O anãozinho que arrumasse pouso na casa das vovós, que estão aí pra isso mesmo.

E assim foi decidido

Agora, que se faça cumprir.

O lugar chama Empório São Francisco. Um dos melhores bares da capital paranaense, pelo menos na humilde opinião deste que ora escreve, embora o mesmo tenha lá suas razões nostálgicas para tanto. Mais informações: http://www.emporiosaofrancisco.com.br/

A sexta-feira será esta, agora, do dia 4 de julho de 2008.

A solenidade terá início quando o bar começar a ficar bacana, e a saideira só vem quando for vontade do criador. Salvo proposta irrecusável.

Junte-se aos bons, e será um deles.


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Devagar me ensinaram a não correr perigo
Por Marcelino Galeano

Devagar me ensinaram a não correr perigo
A esquecer das dores
A trabalhar desde cedo
A dignar-se pelo labor sem pensar
Só o labor de suar
Fizeram-me acreditar
Que abateria o medo.
Sonhar era coisa de vadio
E aflito era coisa de ingrato
Provar que não era frio
Era locupletar-se com a família num domingo debruçado no prato
Quiseram assim, mas não conseguiram,
Deixaram escapar suas vísceras
Ao remédio destemido não mediram
As mínimas.
Choraram no seu túmulo
Mas continuaram sorrindo amarelo
E profundo.
Da vida à graça
A morte, à desgraça.
não poderia ser diferente?
Alguém não poderia fazer o contrário
Parar de botar banca de crente, otário
E gritar aos pombos da praça
Que paz, não se mede com farsa
Paz se sustenta no temerário
Paz é alegria de ser livre
De não acorrentar-se nas provações
Do príncipe.
De esquecer a medida improfícua
Daquilo que não existe
Paz, é ver belo
o olho que chora triste.

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1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Todos com acesso a Internet, desde os amigos até os pervertidos que procuram por orgias envolvendo animais, chicotes e um desentupidor de pia convidados.. esse é Dr. Brehm... um cara sociável.. hahaha
Meu.. tava lendo os versinhos finais agora pouco.. num arquivo que o dignissimo Senhor Magal me mandou :-p
Beijos

11:22 AM  

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