quarta-feira, agosto 27, 2008

Das bizarrices do trânsito

Às vezes algumas situações cotidianas do trânsito me deixam perplexo.
Dia desses, ao deslocar-me até o local de labuta, que, aliás, encontra-se a uma distância de uns três quilômetros do conforto do lar, portanto, cinco minutos percorridos carro, tive o desprazer de observar situações idênticas que se mostraram, no mínimo, toscas.
Em duas ocasiões, ao chegar a cruzamentos, meu espírito apossou-se de uma vontade irresistível em virar à esquerda (forças proletárias malignas me forçaram a isso).
Assim, para tanto, sinalizei esta minha pretensão, e, pacientemente, me pus a esperar os automóveis que vinham na direção contrária. Afinal de contas, ao menos segundo o código nacional de trânsito, os mesmos teriam preferência de passagem.
Porém, eis que o motorista que vinha na direção contrária, tomado de cordialidade extrema, respectivamente acompanhada de estupidez na mesma proporção, pára o automóvel, e, sem qualquer motivo aparente, dá um sinal de luz seguido de um simpático gesto que indicaria “pode passar, meu chapa!”.
Passei, claro. Mas não sem antes imaginar quais palavras de baixo calão estariam sendo utilizadas pelos outros motoristas que, por estarem trafegando atrás do tal parvo, foram obrigados a, solidariamente, compartilhar a oferta desta cordialidade tão cretina.
Cabe lembrar que ambas as situações ocorreram em cruzamentos tranqüilos, sem grande fluxo de veículos, e que, dentro de um intervalo menor de dez segundos certamente eu teria conseguido espaço suficiente para a passagem.
Com o caso devidamente exposto, ponho-me agora a pensar nos motivos que levaram a ocasionar esta bizarrice automobilística.
A primeira e mais óbvia alternativa seria a total ignorância dos motoristas em relação a regras de trânsito, ou então uma incapacidade de raciocínio assustadora destes.
No entanto, tenho outra teoria a respeito deste fenômeno, muito embora uma hipótese não exclua a outra (afinal, a burrice é uma enfermidade contagiosa).
Não é de hoje que vemos por aí inúmeras campanhas da “educação do trânsito”, que procuram veementemente incutir noções de “cordialidade” aos motoristas, estes sujeitos brutos, rancorosos e sem educação.
Acho interessantíssimo como as campanhas em prol do trânsito sempre trazem palavras como “paz” ou “boa educação”, enquanto campanhas destinadas a, por exemplo, filmes pirateados, trazem expressões bem menos amenas. Ao menos nunca vi nenhuma campanha do tipo: “Tenha a devida deferência com os autores. Não pirateie filmes, por obséquio.”
Contudo, ao contrário do que se escuta por aí, há de se convir que o respeito às normas de trânsito em nada têm a ver com boa educação. Trata-se de seguir regras claras, escritas em bom português num livrinho que se intitula “código nacional de trânsito”. Logo, algo plenamente viável a qualquer pessoa alfabetizada. A quem porventura não souber ler, sugiro largar a atividade de motorista a fim ingressar em alguma outra carreira, para qual a alfabetização não seja necessária. Como a política, por exemplo.
É simplesmente ineficaz qualquer tentativa de ensinar bons modos a pessoas adultas, e, por definição, ao contrário dos eleitores, que já podem começar a lambança desde os dezesseis, os motoristas devem ter mais de dezoito invernos. Afinal, votar é notoriamente muito mais fácil do que dirigir, vide o nível intelectual demonstrado durante o hilário horário eleitoral gratuito.
Afinal, convenhamos: Cordialidade e lisura são modalidades que dificilmente podem ser aprendidas depois de certa idade: Se o sujeito não aprendeu nada sobre o tema até o décimo oitavo aniversário, não será depois de marmanjo que se tornará um ‘gentleman’.
Em suma, a questão básica em relação ao trânsito é seguir-se ou não a lei. Lei de trânsito, claro, que muito embora não ande lá muito na moda hoje em dia, por mais incrível que possa parecer, ainda é lei.
Porque polidez e a boa-educação, minha senhora, são apenas acessórios opcionais. E, pelo andar da carruagem, não serão itens de série tão cedo.

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segunda-feira, agosto 18, 2008

Das diversas formas de se medir a coisa toda.

Mais uma vez, numa louvável demonstração de democracia ao resto do mundo, nossos queridos vizinhos estadunidenses mostraram que, ao contrário do que muitos imaginam, lutam por um mundo com mais justiça e menos preconceito.
O comitê olímpico internacional, numa clara tentativa de favorecer as delegações de certos países em detrimento de outros, insiste numa contagem de medalhas que beira os limiares do absurdo: De forma cínica e sem propósito, considera apenas a quantidade de medalhas de ouro, a fim de classificar os resultados gerais de cada país durante as olimpíadas.
Porém, como todos nós sabemos, o espírito olímpico abrange muito mais do que uma simples medalha dourada. Ah, sim! O espírito olímpico é muito mais do que um mísero pedaço de ouro!
O próprio pódio olímpico, que suporta três atletas em diferentes níveis, deveria ser terminantemente abolido. É, sem a menor sombra de dúvida, uma invenção preconceituosa. Porque um atleta deveria ficar mais alto do que os demais? Um grande preconceito, claro!!
Aliás, e os demais competidores, que não conseguiram se classificar entre os três primeiros, como ficam? Porque estes não devem ganham medalhas também? Só porque não venceram? Mas e o espírito olímpico, como fica?
Desta forma, sugiro acabarmos de vez com todo esse exercício de preconceito e segregação, e premiarmos, já de antemão, todos os atletas de forma igualitária. Neste caso, nem seria necessária qualquer tipo de disputa, e as olimpíadas poderiam se resumir a um belo espetáculo de abertura, e, no nos demais dias, uma grande confraternização entre todos esportistas. Regada a muita cerveja, claro.
Ao final do evento, todos se consagrariam campeões, e, fora uma ou outra ressaca violenta, todos voltariam felizes pra casa.
E foi por este motivo que, de forma assaz democrática, os principais sítios estadunidenses relacionados a esportes (chequei ESPN, AOL, YAHOO, TIMES e NBC) estão montando o ranking de medalhistas levando-se em conta a quantidade total de medalhas, sejam elas quais forem.
Assim, por nada mais do que uma incrível coincidência, os Estados Unidos da América, esse gigante do mundo dos esportes, encontra-se em primeiro lugar (number one, buddy!) na contagem geral, ao menos na modalidade “medalhas genéricas”.
A China, essa inescrupulosa nação que almeja vencer a qualquer preço, seja lá quais forem os golpes sujos que precisem para tanto, encontra-se num humilde segundo lugar, com míseras 76 medalhas, enquanto os EUA seguem com fantásticas 79 medalhas (and counting), completamente isolados em um primeiro lugar, até que se prove o contrário.
Porém, o pessoal da COI, assim como todos os demais lunáticos não-estadunidenses do resto (frise-se “resto”) do mundo, de forma desesperada e cínica, insiste em fazer a contagem da forma mais grotesca possível: Contando-se apenas os vencedores de cada modalidade. Sinceramente, não há como entender um contra-senso desta magnitude.
Podemos facilmente perceber que esse tipo de raciocínio não faz o menor sentido: Afinal, se esta contagem estivesse realmente correta, a China estaria vencendo as olimpíadas com 43 medalhas de ouro, contra paupérrimas 26 douradinhas estadunidenses, o que contrariaria qualquer tipo de lógica.
Assim, só nos cabe aqui, em solidariedade à maior e melhor democracia do planeta, tecer ainda mais elogios ao método estadunidense de contagem de medalhas, que, ao contrário dos outros métodos, não vê diferença entre ouro, prata, bronze, aço inoxidável, latão, alumínio, bife do RU, ou qualquer outro tipo de metal.
Afinal de contas, metal é metal, não é verdade? Segregá-los por quê? Por míseras diferenças na cor? Ah, não! Certamente isso não seria o politicamente correto a se fazer.
Que fique aqui então registrado, o meu apoio incondicional aos estadunidenses, estes grandes campeões!
Afinal de contas, se não der pra ganhar na trucada, que seja na contagem de pontos... Mas perder não pode não, que ta valendo uma grade!

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