terça-feira, novembro 27, 2007

colhões, estupidez e outras virtudes

São soluções iguais para problemas diferentes ou soluções diferentes para problemas iguais?
Há quem consiga divagar uma eternidade ou duas a respeito destas afirmações, até finalmente, esquecer qual era realmente o problema. Aí, acaba lembrando de outro qualquer, a fim de continuar este entretenimento tão sadio, popularmente chamado pelos obviologistas (o neologismo não é meu, mas se for o caso eu o assumo, por pura afinidade) de brainstorm.
Por fim, acaba-se encontrando uma solução. Porém, uma solução cujo problema ainda não existe. Mas quando existir o problema, a solução será genial...
No calor do momento, acaba-se esquecendo que depois da tempestade, a bonança pode ser bem vinda.
Muitas vezes uma simples decisão, por mais tosca que seja, pode surtir efeitos bem mais palpáveis. Uma ex-cacique corporativa sempre me dizia: Faça errado, mas faça. Decida errado, mas decida.
Na época não enxergava a sabedoria dissimulada desta declaração, mas acredite minha senhora, ela existe. Nenhuma análise minuciosa, trabalho duro, ou sistemática brilhante substitui a força duma decisão convicta.
A decisão convicta, mesmo quando absurda, tem um esplendor que a decisão titubeante, mesmo quando coerente, não possui.
Na dúvida, é melhor agir com convicção: Afinal de contas, caso tudo dê errado no final do processo, sempre haverá em quem por a culpa.
Ninguém deseja ser comandado por um líder indeciso.
Mulher, homem, florzinha ou zagueira, não interessa: Há de se ter colhões!
Por óbvio, o diálogo abaixo é oriundo das sinapses desacertadas deste que vos escreve. Qualquer semelhança com realidade é merda, coincidência.
- Licença. Dotô Barros, e isso aqui? Vai ou fica?
- Hummmm... Vai. Não, não! Fica. Ou vai? Peraí.
Té té ti tu (onomatopéias que sugerem alguém ligando para um ramal qualquer).
- Alô, Zé? Então... De novo, tão querendo saber se o bagulho vai ou se o bagulho fica. Sei... Certo... Opa... Tá... Mas como assim, decidir? Ah... Já sei o que fazer, então. Valeu, Zé. Abraço.
Ploque (onomatopéia que sugere alguém desligando o telefone).
- Então... Foda-se. O bagulho fica.
- Tudo bem, dotô. Mas se der merda na filial, vou falar que foi o dotô que mandou não mandar, tudo bem?
- Como assim, se der merda? Vai dar merda? Ninguém tinha falado em merda. Que merda vai dar, Tonhão?
- Ué... Sei não...
- Mas que merda! Ninguém decide nada por aqui! Precisamos fazer um brainstorm. Chame a equipe, Tonhão.
- Dotô, mas e o resto do material que era pra ir? Se não for agora, não vai mais hoje. O caminhão já tá saindo... Sabe cumé... A transportadora é foda...
- Não interessa! Já falei! Esqueça isso e chame toda a equipe. Precisamos resolver isso de uma vez. E vai ser agora. Se vocês não decidem nada, eu decido.
Horas depois, e tudo dito, mas nada feito.
Batem dezoito horas, e acaba o expediente.
Nada saiu, tudo ficou. Inclui-se em “tudo”, o pallet que suporta a caixa, que até agora ninguém descobriu se é pra ir, ou se é pra ficar.
No outro dia, tudo certo na matriz, até que ligam da filial.
Parece que deu merda.

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quinta-feira, novembro 08, 2007

Carta aos ETs - parte um

Carta aberta a todos os seres da espécie que vier a habitar este planeta num futuro longínquo ou próximo (o que acontecer antes), ou que estiverem por aqui de passagem.

Parte um.

Espero que vocês não tenham maiores dificuldades para interpretar o código de escrita utilizado no intuito de transmitir esta mensagem (chama-se português). Até porque, se não o interpretaram, não poderiam estar lendo esta frase ou mesmo a anterior, sendo ambas, portanto, de uma imbecilidade assustadora. De qualquer forma, é bom que mantenham em seus espíritos um nível de imbecilidade razoável durante a leitura destas linhas, pois a matéria em análise nesta ocasião trata justamente das preocupações cotidianas da raça humana.
Estamos no ano de dois mil e sete, contados a partir no nascimento dum cara que se chamava Jesus. Não o conheci, mas pelo que me consta, era boa gente. Anos, meses, dias e segundos são unidades de medida para uma coisa chamada tempo. Tempo, é basicamente uma mania que temos de ficar continuadamente contando os períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133.
Para que os senhores possam entender eventuais distorções nas percepções deste que vos escreve, com a devida vênia, gostaria de me apresentar.
Meu nome é Marcos, mas não é raro ver alguém me chamando por alcunhas como Castor, Moicano ou Rosado, e até mesmo de outras formas quando em expressões genéricas, tais como: ‘Aquele cara alí’, ‘Ei, você aí!’ ou ‘O senhor vai pagar como?’.
Sou nativo de um planeta muito peculiar, que os demais de minha espécie (homo sapiens sapiens) chamam de Terra e dividem e sub-dividem das mais bizarras formas, entre estas, ressalta-se a separação em nações, que são definidas (mediante violência ou grave ameaça) por limites territoriais. A nação cujos limites territoriais eu estou habitualmente inserido, chama-se Brasil.
O Brasil é uma nação não auto-administrada cuja atual gestão é responsabilidade, ao menos em teoria, de um senhor chamado Luís. Luís, que já passou muito tempo na chamada reserva de trabalho, está neste emprego apenas provisoriamente: seu ramo de atuação é, na realidade, a metalurgia. Assim, não convém alongar quaisquer explanações sobre Luís. Continuemos.
Dentro desta nação, existem mais divisões, que se chamam estados, que por sua vez, são divididos em municípios, que são divididos em bairros, constituídos de diferentes ruas, devidamente separadas em lotes, com seus respectivos números. Minha espécie tem uma verdadeira compulsão por criar divisões, rótulos e demarcações. Aparentemente, esta é uma característica da nossa natureza.
Vivo num município que ostenta um nome curioso: Curitiba.
Curitiba é uma cidade grande, mas nem tanto. Tem clima ameno, mas nem tanto. Tem algumas coisas interessantes para se fazer, mas nem tantas. Ao menos, é possível encontrar aqui uma bebida muito saborosa, chamada cerveja. Espero que vocês possam conhecer um dia. A cerveja, não Curitiba.
Curitiba é um local predominantemente encoberto por nuvens cinzas, que passam quase despercebidas pela maioria da população, que desperdiça cerca de cinco sétimos do seu tempo dormindo, ou então, entocada nas escolas, empresas, apartamentos, e preferencialmente em shopings (lugares indiferentes à cor do céu), no intuito se encontrarem para então, curiosamente, não se comunicarem umas com as outras. Nos outros dois sétimos do tempo que resta, algumas vezes saem da toca, para não se comunicarem reunidas em parques públicos.
As crianças da minha espécie, que a propósito, é a predadora mais voraz do planeta, são treinadas desde pequenas para terem muito medo, pensarem o mínimo possível, e sempre se arrependerem após qualquer divertimento. Isso tudo, para que se instaure um nível mínimo de ordem no planeta. Ordem esta, aliás, muito interessante para alguns. Para os outros, que não são alguns, não.
Continua...

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