sexta-feira, agosto 28, 2009

Carta aos ETs, parte VII

Sétima parte da carta aos seres que, sem mais nada mais divertido para fazer, forem assumir essa baderna que os senhores chamam de planeta.

Primeiras partes, vide post anterior.


Nós, seres humanos, temos uma característica assaz peculiar: Somos providos de uma disposição de espírito inexplicável e intensa, vulgarmente conhecida pelo nome de esperança.
A esperança é uma espécie de combustível espiritual, que enseja quase todas as ações humanas não aleatórias.
Obviamente os resultados dessas ações são, na maioria das vezes, infrutíferos. Mas é justamente a esperança que faz com que tentemos de novo.
E de novo. E de novo.
Há de se ressaltar que as lendas etimológicas nos afirmam categoricamente que a palavra esperança nasceu do ardiloso verbo esperar.
Eis então, que o grande problema reside, mais especificamente, na questão da administração da esperança.
Pois mesmo que muito nutritiva quando ingerida com moderação, em doses exageradas a esperança pode resultar num eficiente processo de castração racional.
Afinal, nós animais nascemos com uma terrível limitação, que infelizmente é item de série: Vamos todos morrer.
De gripe ou não, cedo ou tarde, havemos de morrer.
Enfim, o verbo esperar não pode ser conjugado eternamente sem que haja revezamento de quem o conjuga. Pois mesmo que em última instância, em algum momento a esperança invariavelmente bate com as dez.
E por mais incoerente que possa parecer, temos que o simples fato da cova ser o destino final de todos, curiosamente faz com que surja dos confins da razão humana uma obrigação tácita de alguma forma justificar o efêmero intervalo de tempo que passamos zanzando perdidos por este mundão.
E aí jaz, sem dúvidas, um dos grandes problemas existenciais que assolam a humanidade. Qual é o sentido da vida, se é que existe um?
A boa notícia é que atualmente a já contamos com inúmeros remédios para amenizar o mal do desconforto nauseante causado pela incerteza crônica acerca dos assuntos da eternidade.
As prateleiras sempre hão de estar forradas com as mais diversas soluções. Acredito que os mais vendidos sejam a fé, o sexo, a fluoxetina, a cerveja (muito embora um não necessariamente exclua os outros), e, eventualmente, outros medicamentos análogos que também tenham embalagem bonita. Nós humanos adoramos embalagens bonitas.
De qualquer forma, sejam lá quais forem os remédios escolhidos, estes devem sempre ser apreciados com a devida moderação, sob o risco de haver diversão gratuita, que certamente resultaria em morte precoce. Afinal todos sabem que o tempo passa muito mais rápido quando nos divertimos.
Enfim, viver mata. Pra piorar, proporcionalmente à intensidade em que se vive.
Em caso de dúvidas, vide bula.

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