segunda-feira, agosto 27, 2007

O evangelho segundo Denis

Perspicaz e metódico. Assim é Lucas, o missionário.
Sempre angustiado com as coisas mundanas, agora teima em evangelizar.
Rapaz franzino, sempre de barba bem-feita e cabelo curto, é facilmente encontrado em ambiente dantesco pondo-se a refletir sobre as coisas, e sempre que possível, refleti-las aos demais. Para a sorte destes.
Como extremo conhecedor da história e protagonista de tantas outras estórias, se fez amante incauto da filosofia e das coisas belas.
Em algum lugar do tempo deixou as pretensões revolucionárias impetuosas, naturais aos do ramo, contudo ainda conserva ideologias intactas como ninguém mais faz hoje em dia. Normal para estes, os perspicazes. Afinal de contas, hay que endurecerce, pero sin perder la ternura jamás!
Em muito lembra Denis, de quem herdou a graça, quando categoricamente repete que os comprometimentos desta vida resumem-se única e exclusivamente à felicidade individual. Ponto pra ele.
Virtuoso docente, talvez esmorecido pelas desventuras do passado, mas ainda assim, virtuoso pela própria natureza.
Títulos? Se acadêmicos, abundam no currículo, embora paradoxalmente se preocupe mais com títulos de certo furacão: As coisas de que mais se fala entre os homens são quase sempre aquelas de que menos se sabe.
Aos amigos, uma afeição incondicional que não se vê mais por aí, mas sem jamais perder a sinceridade descomunal que lhe é peculiar.
Toques de genialidade abundam suas prosas, em forma de humor cáustico, genial e inimitável: coisa que só os perspicazes conseguem.
Este é Lucas: Um ponto fora da curva gaussiana. Um reduto de delírios argumentados, provados e ratificados, mas que a banalidade crônica do mundo insiste em nos fazer esquecer.
No mais, agradeço sinceramente a este caro confrade, pelo direito que me concedeu de chamá-lo de amigo.
Um dia ainda enforcamos Luís Inácio nas tripas de Edir, e renascerá a redenção aos homens de boa fé.
Ou ao menos, continuemos ébrios a prosear pela eternidade. Ou até a saideira. O que acontecer antes...
Na dúvida, desce mais uma, Datena!!

quarta-feira, agosto 22, 2007

Pré-ocupações, pós-ocupações e demais ocupações

Sem pressa para ir, e muito menos para chegar. Devagar se vai ao longe, e coisa e tal...
Acho que a pressa, o estresse e a afobação são para mim, fardos carregados num saco arrastado ao chão, que se esvai aos poucos ao longo do percurso.
Eventuais surtos agudos são ocasionados por terceiros, literalmente com o saco-cheio, ou por eventuais restos ainda contidos no meu saco.
Normalmente as preocupações reincidentes, depois de devidamente moldadas ao cotidiano, tornam-se mais brandas aos olhos de quem as sentem.
As urgências, emergências e demais situações críticas, perdem sua prioridade no exato momento que passam a ser rotineiras.
Afinal de contas, a principal condição para que uma coisa seja prioritária, por definição, é que esta coisa o deva ser em relação a qualquer outra coisa, que não a primeira coisa e necessariamente não prioritária em relação à mesma.
Embora tanto quanto prostituídos ultimamente, os conceitos de urgência, emergência e prioridade são assaz interessantes.
A primeira seria o que urge, ou mais especificamente o inadiável. A segunda seria o que emerge ou surge em destaque, e a terceira (e mais elegante) é a própria primazia disso para com aquilo.
Porém, paradoxalmente presume-se que se tudo (sendo tudo algo constante e freqüente, vulgo rotina) for inadiável, algo conseqüentemente haverá de ser adiado.
Analogamente, se algo surge, haverá de surgir dentre outros que ainda não surgiram, e ainda, se um tem a primazia de algo, automaticamente outros não poderão a ter.
Assim sendo, se tudo passa a ser urgente num mesmo instante, temos que toda e qualquer urgência automaticamente se finda, e nada mais parecerá realmente urgente: Quando tudo é urgente, nada é.
Extremamente lógico, porém também extremamente pertinente em tempos de surtos epidêmicos (isso existe?) de estresse. Há quem diga que o estresse nada mais é, do que a preocupação com a própria preocupação.
Visto que até mesmo os desocupados portam preocupações (preocupações sobre o que será exibido na sessão da tarde, ou sobre o que fará caso chova granizo e não seja possível se esgueirar na piscina térmica ao longo duma terça-feira, por exemplo), estressados são aqueles que se preocupam intensamente por estarem muito preocupados, e quando percebem o que acontece já se vêem mergulhados no mar da angústia e atormentadamente pré-ocupados pelos próximos 19 anos (arredondei pra baixo).
Mas assim é a vida. Ao inevitável nos cabe apenas lamentar (viu Suplicy? Podia ter falado isso...). O que não tem remédio, remediado está.
Porém as coisas mundanas não são tão simples: Há sempre quem come, e eventualmente quem é comido.
Muitas vezes a preocupação de um é personificada pelo sossego alheio. Sossego este, geralmente de quem hierarquicamente pode tê-lo.
Nestes casos específicos, quando sujeito encontra-se entre o instinto compulsivo homicida e o código penal brasileiro, aconselha-se procurar novas paragens.
O estresse, como grande agente causador de câncer e unha encravada, deve ser evitado ao máximo.
Afinal de contas, besteira é espirrar na farofa: Estresse é burrice mesmo.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Conto de amor, com final trágico

Eu, Rava, cebola em conserva, amendoim, cerveja e afins. Tinha que sair asneira.
Segue:

Eles se amavam. Em todos os lugares. Sob todas as circunstâncias. Eles se Amavam. Ele era branco. Ela Também. Feitos um para o outro, só não sabiam em sua concepção, de seu óbvio destino. Se amarem, serem feitos um para o outro, a despeito de tudo e de todos.
Ambos, boêmios inveterados. Não por opção. Provavelmente por genética, como afirmariam Joseph ou Charles. Mas nada disso importava: Consideravam o garçom como uma entidade sagrada. O Bar era praticamente um santuário divinal. O ambiente mais aconchegante do universo.
Ele era peixes, ela, não. Ele falava das coisas de fora, de magia, de meditação, enquanto ela era mais terrena, mais óbvia e clara. Ele, no entanto, envolvente e esguio, rescindia no bar, imerso em seu ambiente.
Ela, obviamente preocupada em incomodar, não estava se sentindo em seu ambiente. Separada, talvez fosse o caso, de sua terra mãe, ela teimava em fazer chorar todos os incautos que dela escutavam os causos. Ele, imerso, em casa se sentia. A tudo e todos estava próximo. Fácil era a locomoção ente uns e outros.
E o garçom, bem, o garçom observava a cena, cético como todo garçom deve ser.
Porém nem tudo foram flores. Um dia, entra em cena um adversário contumaz. Audacioso a ponto de conquistar a confiança da pobre moçoila, que mesmo com um temperamento ácido, se deixou levar pelos seus medíocres galanteios.
Ela simplesmente se encantou pela idéia de um simples anel, que o outro, não podia oferecer. Ela não desejava naquele momento apenas ter tal objeto, mas ansiava em sê-lo por inteira.
Era um maldito e medíocre qualquer, que sem conhecer a afinidade perfeita daquele casal, quis destruir tal união por um simples capricho.
Haverá ele visitado este anel, outros tempos, havira de opinar. Porém mister era que fosse relegado às regiões metropolitanas d´aquele relacionamento, a despeito de quaisquer investidas, fora o peixe feliz: eis que semeou seus condescendentes por toda a superfície dela.
Pois bem. Peixes semeados, ela alva coberta, ele evadia-se, pois, doutromodo sua pecha havera cumprido. Ela, num exulte, de súbito clamou: valei-me, São Cristóvão!. O velho Cristóvão, arcado e cansado, que, em outra ponta do bar sorvia gentilmente uma sangria, espeta o peixe com sua algoz lança.
Ora ora, donzelas da Lídia hão de saber: é fato claro consumado que a lança de Cristóvão e seus amigos pouco falta à enormidade transpassando inimigos e donzelas sem dó.
Assim ela, alva, coberta do peixe e de suas sementes, é atingida por su própria admoestação: a lança de Cristóvão, maior do que o iberbe imaginara, fura peixe e branca igual, e cebola e sardinha ornam-se iguaria no prato do escritor.

Eles eram o rollmops

Mais do mesmo.

Mais uma vez, sigo na mesma e habitual rotina do cotidiano diário... Às vezes com uma cor ou um cheiro diferente, mas essencialmente com as mesmas atribuições, mesmos problemas, mesmas pendências e até mesmo, as mesmas incertezas. Sempre, inexoravelmente, lamentavelmente, mais do mesmo. Ou menos. Mas mesmo assim, do mesmo tipo e na mesma forma.
Uma vez, duas vezes, ou até mesmo aproximadamente duzentas e trinta e sete vezes na mesma mesmice (isso se o camarada for mesmo guerreiro), tudo bem. Não realmente bem mesmo, mas mesmo assim aceitável. Mas a partir daí mesmo, ou até mesmo antes, o mesmo cansa. E acredite: Cansa mesmo...
Mesmo que as mesmas coisas sejam, por um lado, interessantes, o mesmo aborrece.
E pra piorar mesmo, por definição, o mesmo é infinito. Sempre haverá mais do mesmo. Ou da mesma. Varia o gênero, o número ou mesmo o grau, mas no fundo, bem lá no fundo mesmo, trata-se do mesmo.
Muitas vezes, até mesmo o que não parece o mesmo, acaba mesmo revelando-se o mesmo. E vice-versa.
As mesmas chateações, as mesmas alegrias, os mesmos caminhos... Não apenas os de ida, mas até mesmo os de volta.
O mundo, desde o curto período que o conheço, ainda é o mesmo. Mesmo que com um ou outro detalhe que eu mesmo não havia percebido outrora, mas que da mesma forma já existiam mesmo. Afinal de contas, dá na mesma: Pois mesmo assim eram os mesmos detalhes. Eu é que não havia notado mesmo.
E assim mesmo, acaba-se insistindo na mesma e no mesmo. Mesmo os mais aptos, acabam mesmo, mesmo que com alguma mudança (mesmo sutil), continuando na mesma.
Eu mesmo, mesmo sabendo que essas divagações não levam mesmo a lugar nenhum, mesmo assim, ensimesmo-me e peço mais uma cerveja.
Como assim, qual? Da mesma, oras!